Eu tive um bocado de namorados. Cariocas, recifenses, baianos, paulistas, brasilienses... Bom, chega de contar. Não vim aqui dizer qual é o melhor, até porque não foi uma amostragem tão vasta assim, mas vim defender o namoro como método de aprendizado de vida.
Nada mais fácil de me irritar e encantar do que namorar alguém. O relacionamento é um campo minado riquíssimo, em que horas pulam corações e horas explodem bombas. Muito válido. Aprender a ceder e a não ceder, para preservar o próprio limite, é uma coisa dificílima, de habilidade abstrata. Aliás, construir essa cerca que nos cerca — o português é engraçado — é muito mais rápido quando se namora alguém.
Eu tive um querido que até hoje não sei por que estava comigo, já que eu era gorda, falava palavrão, era muito espontânea, não podia comer, tomar refrigerante nem dançar. Eu sei o que eu estava fazendo ali: fincando tábuas e arame farpado ao meu redor pra nunca mais deixar alguém fazer isso comigo. Deu certo. Eu saí dali forte, e ele continuou sendo um bosta.
Tive namorados que me ensinaram, com liberdade, a ser mais eu; outros, a dizer não; outros, a dizer sim; outros, a desistir, a insistir. Com cada um aprendi mais um pouquinho e, quando a lição termina, só nos resta agradecer o processo e que venha o próximo. Mentira. A gente berra, chora, fica puta ou aliviada, tem três ataques, toma muita cachaça, sessões de terapia, e aí um dia o próximo chega.
Já se perguntou por que namorou quem você namorou? Eu, sempre. Uns eu tenho certeza, outros não. Eles nunca são iguais, mas têm traços parecidos, rsrs. Questões com a mãe. Quase todos filhos únicos ou com uma irmã. Jung explica, enjoei do Freud.
Namorar é colocar na prática o que você aprende. É a olimpíada da terapia. É onde você finca o pé ou desmorona. Onde você aprende a receber carinho e a dar também. É onde você faz planos, preenche seus dias, escuta outras músicas, experimenta novos lugares — internos e de passear. É onde seus traumas riem da sua cara, onde a gente quer matar o outro e, ao mesmo tempo, abraçar.
Namorar é uma delícia. Eu, que já fui casada duas vezes, acho mais gostoso do que ter marido. Os atritos diminuem, a rotina é menos igual, cada um tem seu espaço de segurança, bagunça, respiro e filho.
Hoje, 12 de junho, acho uma pressão chatíssima para namorar, sair pra jantar, transar, flor, vela, filas, outros casais, corações, sei lá mais o quê — uma cafonice sem fim. Gosto porque está frio e pra tomar vinho é melhor. Gosto porque no frio a gente fica mais pertinho sem ficar grudento, e tem um casaco quentinho, e o abraço fica mais fofinho. Gosto porque a gente passa com o Francisco e todos se divertem. Faz anos que fazemos um fondue pra comemorar. Já teve ano que pegou fogo, já teve ano que a panela sumiu, já teve ano que deu certo — e sempre tem mais uma história pra lembrar.
Feliz Dia dos Namorados pra todo mundo que entende que o outro está na nossa vida para nos ensinar alguma coisa — nem que seja se amar mais, nem que seja ir embora, nem que seja estar exatamente onde se está. Depois de muitos namorados, acho que uma hora a gente acerta, rsrs. Tomara :)
Te amo, Rafa. Que continuemos ensinando e aprendendo um com o outro, e namorando no meio do caminho :)
Carol
Que lindeza de texto! Amei!